Os lamentos é que não cessavam, e se Vossa Excelência me disser que era uma suposição minha, e que tudo não passava do vento que fazia soltar esse ruído no meio das folhas, a verdade é que, nessa noite de Maio, não havia nem uma aragem, estando Lisboa pesada e quente como se já estivéssemos no Verão, tendo sido isso que me levou a interromper por um momento o serviço para ir beber umas cervejas ao balcão de um café, coisa que eu sei que não é permitida nas horas de serviço, mas o facto é é que não há nada pior para o exercício da autoridade do que um agente indisposto com o calor, pelo que essas imperiais, geladas como deve ser, me souberam a pouco, mas por outro lado propiciaram a minha paragem no topo do Jardim do Campo Grande, pelo que até posso afirmar que a cerveja, tomada à hora certa, é o melhor auxiliar de ordem pública que se pode imaginar.
Nuno Júdice. Uma História de Amor. Granta Portugal 6 “Noite”. Tinta da China. 2015.
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