Things posted in 2017
Novamente o percorreu um sentimento de felicidade, de calma e segurança do coração, maravilhoso e cheio de delícias para quem sabia o que era angústia e pavor. Lebrava-se de uma frase da sua infância. Falava-se, entre companheiros de escola, do segredo dos acrobatas, que sabiam andar sem medo e firmemente sobre o arame. E um de entre os rapazes dissera: «se fizeres no teu quarto um risco a giz, terás tanta dificuldade em andar sobre ele como sobre o mais fino arame. E, contudo, pisamo-lo seguramente porque não há perigo. Se imaginares que o arame é um risco de giz e o ar de ambos os lados é o chão, podes andar sobre qualquer fio.» Viera-lhe esta frase à mente. Como era bela! Não se teria passado, com ele, justamente o contrário? Isto é, não poder andar seguro e firme sobre o chão plano, porque o tomava por um fio de arame?
«Ele e o Outro» («Klein und Wagner»). Hermann Hesse. Guimarães & C.ª Editores. 1979.
Porque o mundo me empurrou,
Caí na lama, e então
Tomei-lhe a cor, mas não sou
A lama que muitos são.“Este Livro Que Vos Deixo… – Livro 1”. António Aleixo. Casa das Letras. 2015.
LAUDISI [wanders round the study for a little while, grinning to himself and shaking his head. Then he stops in front of the large mirror which rests on the mantelpiece, looks at his own reflection and starts talking to it.]: Ah, there you are! [He gives his reflection a mock salute with a couple of fingers, winks one eye cunningly, and grins at it.]: Well, my dear fellow! Now which of us two is mad? [He raises his hand, pointing the forefinger at its reflection, which, in turn, points its forefinger at him. He grins again, then] Ah yes, I know! I say you and you point at me! Dear me! Dear me! Between you and me and the gatepost we know one another pretty well, you and I! But what an awful fix you’re in, old chap! Other people don’t see you the way I see you! So what do you become? I can say that, as far as I’m concerned, standing in front of you as I am now, I’m able to see myself and touch myself. But as for you, when it’s a question of how other people see you, what happens to you? You become a phantom, my dear fellow, a creature of fantasy! And yet, do you see what these lunatics are up to? Without taking the slightest notice of their own phantom, the phantom that is implicit within them, they go haring about, frantic with curiosity, chasing after other people’s phantoms! And they believe they’re doing something quite quite different.
[The BUTLER enters and is rather taken aback as he hears LAUDISI’S last words to the mirror. Then he says]:
“Right You Are! (If you Think So)” – “Cosí è (se vi pare)” – Act I, Luigi Pirandello. Penguin Books. 1962.